Por Michelle Portela

A expectativa é que em breve seja publicado o segundo edital do Programa Ecoforte, voltado para redes territoriais de agroecologia, no valor de R$ 25 milhões, com recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e Fundação Banco do Brasil (FBB). O Programa Ecoforte faz parte da Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica, instituída em 2012.

O anúncio foi feito por representantes dos financiadores durante o Seminário Nacional sobre o Programa Ecoforte – Redes de Agroecologia para o Desenvolvimento dos Territórios, realizado pela Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), entre 3 e 5 de julho, em Campinas, no interior de São Paulo. Participaram do evento representantes de 28 projetos apoiados no primeiro edital.

“O Programa Ecoforte se transformou numa importante estratégia de fortalecimento das redes agroecológicas, revelando soluções inovadores para a agricultura familiar e orgânica e na restauração ambiental dos territórios das quais não se pode abrir mão”, disse a gerente de assessoramento técnico do Fundação Banco do Brasil, Mariana Oliveira.

Para Paulo Petersen, integrante do núcleo executivo da ANA, os novos investimentos representam o reconhecimento das instituições financiadoras sobre as potencialidades da agroecologia. “As políticas públicas respaldam as ações realizadas pelas redes que promoveram a expansão da agroecologia a partir de experiências autônomas no Brasil, criando um cenário onde diferentes grupos podem apresentar a sua luta e aprendizado”, ressaltou.

O novo edital, de acordo com informações apresentadas pelos representantes da FBB e do BNDES, deverá contar com duas linhas de atuação. A primeira visa apoiar empreendimentos vinculados às redes contempladas pelo primeiro edital, enquanto a segunda chamada deverá destinar recursos a projetos inéditos destinados à implantação de novas unidades de referência de tecnologias sociais.

Visita de Intercâmbio

O Programa Ecoforte integra o Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (Planapo) e visa o fortalecimento e a ampliação de redes, cooperativas e organizações socioprodutivas e econômicas de agroecologia, extrativismo e produção orgânica. Agricultores familiares, assentados da reforma agrária, povos e comunidades tradicionais e indígenas, bem como suas associações e cooperativas, são os principais beneficiários do programa.

No segundo dia do seminário (4 de julho), os participantes visitaram unidades de referência vinculadas à Rede de Agroecologia Leste Paulista, no Assentamento 17 de Abril, no município de Restinga (SP), no qual moram e produzem mais de 160 famílias. Na região dominada pelo agroindústria sucroalcooleira, agricultores do assentamento investem na variedade de produção em Sistemas Agroflorestais (SAFs), assessorados por técnicos da Embrapa Meio Ambiente, sediada no município de Jaguariúna.

Pedro Pinheiro, 57, e sua família vivem há 18 anos na área, mas foi há menos de dois anos que adotou o SAF. Nesse período, saiu da cultura de hortaliças e conseguiu ampliar o plantio, que hoje conta com 32 variedades de frutas além de legumes. “Feijão, quiabo, abacaxi, cajarana, palmito, muitas outras. Misturar essas coisas foi algo que comecei a fazer depois de participar de reuniões sobre agroecologia”, disse.

Antônio Donizete Souza, 62, está desenvolvendo o SAF-Horta, com foco em produção de hortaliças e húmus de minhoca em sistema agroflorestal. Também passou a criar abelhas nativas sem ferrão e quer diversificar a produção . “A ideia é ampliar o nosso SAF e aproveitar ao máximo o uso da terra”.

José Batista de Sousa Martins, o Zé Martins, falou sobre as dificuldades de manter um SAF na região, cercados de monocultivos, especialmente de cana-de-açúcar, que fazem uso de agrotóxicos. “Conseguimos que as autoridades impeçam os aviões que lançam veneno na produção deles de sobrevoarem a nossa área, que terminava sendo atingida pela pulverização aérea. Para trabalhar com SAF a gente tem de ter vocação, mas também sabedoria. Aprendi muito desde que comecei a trabalhar com esse sistema”.

Pedro Rocha, aos 79 anos, é uma das lideranças do assentamento, tendo participado da primeira jornada de ocupação de terras devolutas na região pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). “O nosso desafio atual é melhorar a produção e produzir mais. O Ecoforte permitiu aos agricultores daqui o acesso às tecnologias necessárias para a gente concretizar essas mudanças”, disse o agricultor, também conhecido como Pedro Xapuri, por sua amizade com o líder seringueiro Chico Mendes, assassinado no final da década de 1980, no Acre.

Ao final da visita, no sítio de Donizete, houve o lançamento do 21º episódio da série Curta Agroecologia, produzida pela ANA para dar visibilidade às experiências de agroecologia em todo o País. “Cuidar das Borboletas” apresenta o trabalho desenvolvido por agricultoras do assentamento Milton Santos e por produtores da região de Campinas e conta a história de Romeu Leite, fundador da Vila Yamaguishi Orgânicos, um dos maiores conhecedores do Brasil do processo de criação de galinhas em sistemas agroecológicos. “Só tenho a agradecer aos produtores pelo vídeo de alta qualidade e que pode inspirar mais pessoas a aderirem à agroecologia”, disse o produtor.

Os vídeos podem ser encontrados no site da Ana, no endereço eletrônico http://www.agroecologia.org.br.